por Richard Rudd
Eu estava sentindo bastante calor. Afinal, tenho sangue nórdico correndo pelas minhas veias. E simplesmente não consigo resistir ao verde límpido da lagoa no topo do parque Lithia em Ashland.
São as cores que me atraem – o verde esmeralda meio dourado da água e o prateado solitário nas folhas empoeiradas no alto. O frio congelante não me importa nem um pouco. Diante de toda essa exuberante riqueza de cores, eu simplesmente não consigo me conter. Não basta ficar maravilhado; eu preciso nadar nelas, mergulhar em suas profundezas aquosas.
E assim eu me encontro ali, sozinho, quase todas as noites desses dias tão pacíficos…
E hoje foi um dia de Sonho. Eu acordei sonhando e passei o dia inteiro a falar de sonhos. Nós nos deitamos no parque esta manhã, nós três. Sob o musgo da sombra do delicado balançar das folhas dos carvalhos, sonhamos nossos sonhos. Ao final do dia, ao voar na minha bicicleta pela noite azul profunda, com o vento quente e silencioso preenchido pelo canto das corujas em meu rosto e as estrelas cintilando como ideias perfeitas contra a abóbada azul-violeta do céu, meu próprio Sonho pairava sobre meus ombros como um manto.
E a lagoa, a lagoa do Lithia, falou comigo sobre sonhos. Seu reflexo gélido que abalou a minha respiração e aguçou os meus sentidos com sua lâmina cortante de distantes neves derretidas arremessou meus sonhos em mim em um suspiro ofegante enquanto eu saía das águas verdes em direção ao dourar do Sol.
E assim foi, enquanto eu traçava o meu caminho de volta, tropecei em um pedaço de papel amarelo caído no chão. Ao pegá-lo, descobri que se tratava de uma espécie de carta escrita em garranchos. Não havia ninguém à vista. Então, sem pensar muito, enfiei o papel no meu bolso. Fui até a beira do magnífico riacho borbulhante e me agachei ali sob as árvores, como se estivesse me escondendo. Eu tinha uma sensação esquisita de que estava sendo observado e, talvez ainda mais estranho, de que estava sendo testado.
Era uma carta de amor.
Eu me senti um pouco tímido, mas tinha uma sensação inexplicável de que era claramente feita para mim, pelo menos de uma maneira misteriosa.
Para mim, a carta era uma perfeita obra de arte. Embora estivesse ilegível em alguns trechos, isso só fazia com que parecesse ainda mais perfeita. O que coroou toda a experiência para mim foi que o nome dela era a parte mais indecifrável de todas!
Senti como se guardasse em minhas mãos um tesouro ancestral e valioso. Ela tinha escrito o seu sonho. Era um sonho tão primoroso e inocente. Ela falava em comprar um barco e velejar pelo mundo, junto com ele. Estar sós sob as estrelas. Encontrar ilhas desertas com praias e palmeiras imaculadas e o azul profundo do mar. Era um clichê Absoluto de todos os nossos sonhos, era um Mito Puro; inocente, atemporal e eterno…
Fiquei surpreso. Havia uma frase de ouro que brilhava como se fosse o Santo Graal de seus Sonhos:
“… e nós seríamos tããããããão livres…”
Lágrimas encheram meus olhos, atraídas tanto por sua maravilhosa sinceridade quanto pela graça que me permitiu receber essa carta. Imaginei o que fazer com tamanho achado. Deveria guardá-la, como um tesouro mágico para inspirar os amigos? Eu nunca poderia fazer isso. Ela era de alguma forma para mim, e apenas para mim.
E, ainda assim, simplesmente soltá-la… Isso me assustava. Com seu faminto murmurar dourado, o riacho me chamava. Eu esperei. Finalmente, senti uma decisão tomar conta de mim. Dobrei-a e segurei-a em direção ao céu, como se fosse uma oferenda aos deuses, e naquele breve momento algo maravilhoso aconteceu;
Eu sabia para que era…
e, com reverência, sussurrei as palavras que brotaram nos meus lábios. O rugido dourado e ansioso das águas faiscantes se fechou em torno da carta de amor e, em um piscar de olhos, ela se foi, dissolvida como as próprias palavras que eu havia oferecido em gratidão e liberação; perdida na espuma de um Passado irrecuperável.
Naquelas palavras está a oração da Esperança, carregada rio abaixo pelo voo rasante de um pássaro; pois o simples sonho de uma menina inocente corporifica a totalidade do sonho de um mundo que se afoga…
Eu não posso lhe falar as palavras, pois elas não são para você escutar. Você precisa encontrar as suas próprias palavras, como cada um de nós. Você deve mergulhar nas águas esmeraldas da sua própria lagoa Silenciosa, e lá você poderá encontrar a carta de amor dourada que está a sua espera, caída bem no meio caminho para o seu coração. E lá você precisa redigir a sua carta e se apaixonar pelo seu Sonho e, a coisa mais difícil de todas, você precisa deixá-la ir para sempre…
“E eu farei com que os ventos sussurrem o seu nome, e os pássaros carregarão seus suspiros, e as rochas, os arbustos e as estrelas irão se curvar, ressoando como a canção de seus olhos…”
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