por Richard Rudd
O vento sobre a água
canta com a face
de palavras esquecidas
Sou um amante da poesia. Mas agora eu sei o que a maioria das pessoas pensa a respeito de poesia – uma das coisas mais comuns que dizem é que não a entendem. Ao qual devo responder – e você entende música? Vamos falar sobre poesia de um ponto de vista muito mais amplo – como uma metáfora para um modo de viver a vida.
Eu passo muito tempo combinando e recombinando palavras de diversas maneiras. Este é o trabalho do escritor, mas a maior parte do meu trabalho se baseia em padrões, ritmo e estrutura. Por exemplo, meu livro Chaves-Gene - liberando seu propósito superior possui uma fórmula própria – uma configuração energética repetitiva, mas ao mesmo tempo única. É assim que se escreve palavras quando se deseja que elas penetrem profundamente na mente de uma pessoa. Essas fórmulas linguísticas das 64 Chaves-Gene são elaboradas e modeladas para formar uma ressonância geométrica exata que emerge do nosso DNA e também retorna a ele. Para mim, as Chaves-Gene são como um jardim bem cuidado que estabelece uma visão e um intuito ao leitor. Seu intento é destacar os aspectos mais sombrios da nossa natureza para que a transmutação dos mesmos aumente a frequência da nossa consciência.
No entanto, existe um outro tipo de escrita – uma escrita absolutamente livre de intuitos. Isso é poesia – um pequeno pedaço de vida selvagem – uma selva indomada povoada por formas selvagens e imprevisíveis que não se deixam domesticar. Como o haiku acima, a verdadeira poesia não pode ser entendida. É um fluxo de palavras que não acrescenta nada à mente, a não ser causar um desconfortável curto-circuito. Poesia é a linguagem do coração. Mas quando falo de poesia, não estou falando de poemas. Os poemas geralmente não têm nada a ver com poesia. Talvez você tenha medo de poemas, mas não de poesia – e você está absolutamente certo em ter medo de poemas. Muitos poemas podem ser nada mais do que rimar com destreza palavras e histórias. A verdadeira poesia, no entanto, pode ser encontrada em qualquer lugar – é uma corrente ou fragmento de palavras que suaviza e abre o seu coração. Essa é a minha definição de poesia.
Na realidade, a verdadeira poesia deve emergir espontaneamente do vazio e mergulhar de novo nesse vazio. Pode ser uma frase que você encontra em um jornal ou um parágrafo no seu livro favorito. A poesia pode ser só um fragmento, mas nesse fragmento repousa o reflexo de todo o Universo. Em síntese, o único propósito da poesia é dissolvê-lo e, em seu nível mais profundo, ela nem precisa de palavras. Os poemas mais poderosos são os que parecem se elevar acima de suas próprias palavras. Poesia é algo que não se encaixa – que não se conforma com o mundo que construímos a partir da nossa mente.
O outono é talvez a melhor estação para a poesia. Sempre foi assim, porque esse é um momento de dissolução e declínio. No outono, tudo o que era certo começa a desaparecer e tudo o que era estruturado começa a suavizar e decair. É uma época de suavizar arestas, de curvas e arcos. É um lembrete de que devemos deixar ir. Nos meus escritos, falo frequentemente do retorno da Deusa à Terra. Quando questionado sobre a que essa Deusa se refere, às vezes me sinto por um momento em um impasse. Ela não tem definição porque não é apenas uma coisa – ela é o terceiro aspecto da sagrada trindade no coração da criação, mas isso não faz dela um número. O três une, dissolve e conclui, tudo ao mesmo tempo. Suponho que seja por isso que os cristãos a chamavam de Espírito Santo – porque ela não pode ser apreendida.
Se eu fosse encontrar uma única palavra que pudesse descrever o que a Deusa realmente significa – como a sentimos, eu usaria a palavra “suavidade”. Aqueles que têm coração aberto o suficiente para deixar esse espírito entrar em suas vidas sempre encontrarão essa suavidade no âmago de seu ser.
Lao Tzu disse:
A coisa mais suave de todas
pode correr como um cavalo galopante
por entre as mais árduas das coisas.
Como água penetrando a rocha.
E assim o invisível adentra.
Falar a partir dessa suavidade é falar com poesia, chegar aos limites da própria linguagem. A suavidade nos retira do drama da evolução, além do sistema e da estrutura, para nos curar de dentro para fora. A suavidade diz: sim, sim, brinque com a evolução, voe nas asas dos seus sonhos, mas não esqueça que todas essas coisas passarão, assim como você também passará. Venha descansar em meus braços por um instante...
Em um curso que dei recentemente, falei da seriedade de Tornar-se em oposição à leveza de simplesmente Ser. Ambos são aspectos da vida, mas a suavidade do Ser é a base de tudo. O que estou sugerindo é o espírito do haiku – o pequeno poema no início deste artigo. Você não escreve um haiku. Um dia, você simplesmente se depara com ele, pairando no ar à sua frente.
Eu acho que a vida é assim.
O vento sobre a água
canta com a face
de palavras esquecidas.
Temos que deixar a suavidade entrar. Escute o vento e esqueça as palavras que estava prestes a dizer. Aprecie quando, de repente, você perde o próprio rumo. Deixe a suavidade da vida deslizar pelas linhas franzidas do seu rosto. Ao contemplar seu próprio reflexo na água, deixe que o vento o leve. Vento, água, folhas, música – esses são os agentes da Deusa. No Ser, não existe um estado elevado de consciência – nenhuma meta – apenas um dissolver e um grande, enorme sorriso esparramado por toda a criação. O que quer que você esteja fazendo no seu trabalho atarefado para "tornar-se", gostaria de convidá-lo a encarar a vida com uma alma outonal. Deixe-a torná-lo mais suave, liberando qualquer tensão. Se você acha que tem algo a defender, talvez aprecie soltar um pouco o seu apego. Existe uma certa liberdade na dissolução. Se o seu único objetivo é brincar, você se torna tão invencível quanto a própria consciência.
Quando olho com olhos suaves para o futuro, vejo apenas o retorno da Suavidade, do poético e harmonioso, do selvagem e indomável. Se você olhar para a frente apenas com sua mente, não poderá ver isso. A lógica do modelo em que estamos atualmente enredados parece levar a cada vez mais complexidade, perigo e caos. É provável que um dia cheguemos a um impasse, um Apocalipse. Para a lógica, isso é inevitável. Mas, como as papoulas vermelhas dançando nos campos de batalha do Somme, a natureza do Ser não pode ser extinta. O apocalipse é um evento genético e psíquico necessário para a consciência coletiva da humanidade. Quando o velho colapsa, o novo renasce. Em uma época de crescente preocupação e medo global a cerca do futuro, devemos seguir nossos sonhos e ajudar como e onde pudermos. Mas, por trás de tudo, não podemos esquecer a coisa mais importante de todas – nós não estamos causando nada disso. Se você olhar com a sua mente, apenas vai gerar preocupação. Se olhar através do seu coração, se ver a vida como um poeta a vê, sempre se sentirá tranquilo.
Para mais poesia e suavidade, visite www.genekeys.com e explore os escritos de Richard Rudd em inglês.
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